domingo, 21 de março de 2010

Artigo de Opinião do “R.N” - As vítimas da violência na escola e o Estado permissivo

De uma amiga, recebi a seguinte indignação sobre a duplicidade do discurso socialista relativo à morte do professor expressa na explicação da morte, em 9-2-2010,  do prof. Luís Carmo,  docente de Música da Escola Básica 2, 3 de Fitares, noticiada pelo DN, de 12-3-2010:
«O director regional de Educação de Lisboa [José Joaquim Leitão] espera que o inquérito instaurado numa escola de Fitares esclareça o caso de um professor que se suicidou e que era alegadamente gozado pelos alunos, mas sublinhou que o docente tinha uma "fragilidade psicológica" há muito tempo.»

Previamente, fonte oficiosa põe nos jornais o cadastro psicológico do professor para demonstrar que é ele não é vítima de qualquer negligência da Escola e da DREL no tratamento das várias queixas apresentadas, mas... de si próprio. Depois, o director socialista da DREL, refere sem pejo, nem respeito pelo falecido, que o docente tinha uma «fragilidade psicológica já desde há muito tempo» ou «alguns problemas psicológicos».  O professor falecido não beneficia do advérbio de modo «alegadamente», que protege o gozo dos alunos - ainda que não conste que o director de Educação de Lisboa seja médico do falecido, polícia ou procurador do Ministério Público, para atestar a dita «fragilidade», a qual também não parece ter transitado em julgado... O que ele deve explicar é o resultado das queixas do professor, nomeadamente «sete participações de ocorrência disciplinar», e o motivo por que a Escola e a DREL não evitaram este desfecho:
«Segundo os jornais Público e i, o professor, com 51 anos e licenciado em Sociologia, vivia com os pais em Oeiras e foi colocado nesta escola no início deste ano lectivo. A 09 de Fevereiro, o professor parou o carro na Ponte 25 de Abril, em Lisboa, e atirou-se ao Tejo.
No seu computador pessoal, noticiam os dois diários, deixou um texto que afirmava: "Se o meu destino é sofrer, dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de mim, não tendo outras fontes de rendimento, a única solução apaziguadora será o suicídio".
De acordo com o i, os problemas do professor ocorreram com "um grupo de alunos do 9º ano", que o insultavam na aula, e que motivaram "pelo menos sete" participações do professor à direcção da escola, "alertando para o comportamento de um aluno em particular".»
Na Educação do Meu Umbigo, Paulo Guinote também denuncia «a verdade oficial». Verdade oficial que também parece atingir na tumba o desgraçado Leandro Filipe Pires - veja-se «Investigações apontam para acidente de Leandro», no DN, de 16-3-2010. Um menino demasiado pequeno, demasiado frágil, demasiado pobre, para resistir às agressões repetidas, sem consequência nem descanso. Um menino de 12 anos que, na versão oficial, apenas queria «chamar a a atenção» («o facto de Leandro ter tirado a roupa, antes de se atirar ao rio, reforça esta tese»), somente banhar-se nas águas quentes do rio Tua (num 2 de Março!!), tendo assim mentido aos colegas quando lhes disse que se ia atirar ao rio por causa das agressões...
E para onde apontaram as investigações sobre as agressões anteriores que Leandro sofreu, uma das quais o puseram «três dias» no hospital, após ter sido «agredido com pontapés na cabeça por três alunos da escola»? E para onde apontou o Estatuto do Aluno, de Março de 2008, e toda a legislação garantística e despenalizadora que protege os agressores (bons selvagens) e desprotege as vítimas?...
Mas «fragilidade psicológica» não será a dos dirigentes das escolas e das DRE's que desvalorizam estas «coisas de crianças» e não punem os alunos agressores, por desleixo ou medo das vinganças dos próprios e dos seus pais/encarregados de educação? O problema é que os professores têm de desempenhar a sua função,  mas os directores, que também são professores,  só vão para as funções de dirigentes porque se candidatam. Logo, se não querem suportar os encargos psicológicos das funções dirigentes, não deviam candidatar-se, permanecendo na docência efectiva,  e quando os casos desagradáveis ocorrem, se não querem assumir a sua resolução disciplinar,  deveriam demitir-se, em vez de eventualmente fazerem vista grossa e deixarem degradar as aulas, as turmas e a escola.
E «fragilidade psicológica» não é a dos governantes que decidem colocar nas EB 2,3 as crianças de 10 e 11 anos na mesma escola que os matulões repetentes das turmas CEF's, sem protecção nem vigilância, nem sequer punição contra os actos de violência?
E «fragilidade psicológica» não será também a nossa que permitimos a continuação da política socialista de permissividade da violência nas escolas? E que nos calamos perante a segunda morte das vítimas: a morte da sua verdade sofrida?

Sem comentários:

Para que serve este BLOG?

Este Blog tem como objectivo comentar actividades ou quaisquer outros actos relacionados com o nosso Concelho, alertando para os mais desatentos, sensibilizando para que o direito à cidadania seja uma realidade forte no nosso Concelho.

Acerca de mim

A minha foto
Interessado nos costumes e Hábitos das nossas gentes. Dar a conhecer e comentar casos e coisas da vida publica do Barreiro

Seguidores e amigos